18 de junho de 2008

"Está no Papo"



O assunto do momento é, como não podia deixar de ser, o Europeu.
A euforia anda à solta e a crise pouco importa!
Entreguem-nos o caneco, c
oitados dos nossos adversários nem vale a pena jogarem.
Esta é a conclusão a que chego cada vez que ligo a TV e apanho uma entrevista a um qualquer Tuga. Cá pelo burgo, na Suiça ou em qualquer buraco onde se consiga descobrir um, basta ligar uma câmera e colocar um caramelo com um microfone na mão... como que por geração espontânea, surgem emplastros por todo o lado. Aparecem aos milhares, equipados a rigor com cachecóis e bandeiras e, todos eles incrivelmente opinadores. Invariavelmente soltam pérolas como: "Vamos ser campeões europeus" ou "o Cristiano Ronaldo é o melhor do mundo".
Se não houver um emplastro que diga voluntariamente uma destas verdades absolutas, o repórter encarregar-se-á de procurar um que o faça. Parece que é obrigatório em todas as intervenções. Entre outras coisas, também se ouve: “O Simão é o maior, o Moutinho é fabuloso, o Quaresma um génio, o Nani um virtuoso, o Deco é mágico, Ricardo Carvalho não há melhor", os restantes nestas ocasiões, mesmo com defeitos, são todos uma maravilha.
Deve ser por isso que o Europeu está no papo, não há pai para nós!
Estarem presentes outras 15 selecções é apenas um pormenor.
Sonhar é bom! Em exagero é insanidade.
Se, por acaso, algo correr mal aposto que serão estes mesmos optimistas os primeiros a encontrar um qualquer bode expiatório.
Para ajudar à festa, e encher chouriços, entrevistam-se as mulheres dos jogadores, os pais, os avós, os primos, os tios, os amigos e vizinhos, o cão, o gato e o periquito. No fundo entrevista-se tudo o que possa ter tido ou vir a ter o mais remoto contacto com um dos nossos heróis.
É a chamada "abordagem total".
Considero as entrevistas a cereja informativa, mas pior do que isso, não há paciência, é a "informação" que as nossas televisões nos tentam impingir constantemente.
De manhã à noite, somos "obrigados" a saber tudo sobre todos.
Quem? Como? O quê? Onde? Quando? Porquê?
Isto para coisas tão importantes como: escarrar, arrotar, idas ao WC, dores de barriga e dentes ou se alguém num qualquer momento coçou os tomates.
Até ao final do Europeu vamos ficar a saber o que comem, bebem, vestem, os penteados, quem ganhou a suecada ou o jogo na Playstation, quantos telefonemas fizeram e receberam…
Como dos mais mediáticos não vai escapar nada, pessoalmente, "estou interessado" em saber: Quantas velas acendeu Scolari à nossa Srª de Caravaggio; o número de vezes que Pepe disse a palavra Portugal; quantos bolos comeu o Miguel Veloso; quantas vezes se penteou o Nuno Gomes; os litros de água que o Petit bebeu; a cor das cuecas do Paulo Ferreira; das meias usadas pelo Bosingwa; os cigarros fumados pelo Miguel; a marca de perfume do Meireles; quantas vezes o Meira fez a barba; os SMS’s recebidos pelo Postiga; quantos pesadelos o Ricardo teve com o Quim.
Quando souber esses detalhes, então sim, irei dormir muito mais descansado.
E já agora, se não for muito incómodo, também, qualquer, mesmo o mais ínfimo e sórdido, pormenor que me possa ter escapado. É de vital importância, o nosso sucesso depende disso.
Desde já, aos “Srs. Jornalistas”, o meu muitíssimo obrigado pelo “excelente” trabalho realizado.
A bem da nação, não hesitem em interromper qualquer serviço noticioso.
Sem o vosso contributo, não sei o que seria de mim durante o “nosso Europeu”.

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